O empate diante do Flamengo não anula os problemas do Vasco
- Eduardo Alves
- 20 de abr.
- 5 min de leitura
Mesmo que seja um resultado inesperado, de forma positiva, o empate diante do Flamengo não abona Fábio Carille, Pedrinho e o Vasco de críticas

Apesar de ver com bons olhos o empate por 0 a 0 diante do Flamengo, pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro, ainda não me convenço de que ele seja suficiente para acabar com as microcrises que o Vasco vive atualmente.
Pode parecer má vontade ou qualquer outra coisa, mas simplesmente não consigo abraçar esse pensamento passional e ignorar tudo que ainda se faz pertinente com relação ao atual momento do clube.
Postura passiva no uso do Maracanã
Claro, o acordo pelo uso do Maracanã é vantajoso. Garante ao Vasco o direito de uso, de forma mais pacífica, do estádio que, por merecimento e direito judicial, também é do cruzmaltino.
Claro, o acordo vem em boa hora, afinal, o Vasco tem intenção de iniciar sua reforma de São Januário, no máximo, em 2026.
Claro, a postura da diretoria em querer esfriar as relações, antes acaloradas, com as diretorias de Flamengo e Fluminense, sob o ponto de vista logístico e estratégico, é ótimo.
Tudo isso é ótimo, mas e o moral do clube, como fica?

O presidente foi a público e clamou pelo apoio popular na medida que visava mandar o clássico diante do rubro-negro em São Januário. Dias depois, um ofício foi enviado ao BEPE e, conforme o esperado, rechaçado.
Então, uma dupla de torcedores move ação no júri popular e consegue liminar garantindo o uso de São Januário para o jogo.
Qual a postura da diretoria? Manter o acordo com as diretorias dos rivais.
Friso, logisticamente e estrategicamente, um acerto. Moralmente, institucionalmente, um erro. Abusou-se da boa fé da torcida, usando, deste direito que é mandar partidas clássicas em São Januário, como moeda de troca.
O torcedor sentiu-se traído, com razão.
Mal utilização do plantel à disposição
Foge ao arbitrário a constatação de que Fábio Carille utiliza de forma equivocada grande parte do plantel do Vasco.
O escanteamento de tipos como Juan Sforza, Manuel Capasso, Mateus Carvalho e Benjamin Garré comprova que o técnico não é convicto de ideias que condizam com a demanda competitiva do clube.
Ao menos, engloba incoerência na sua forma de pensar o futebol vascaíno.

Para além do escanteamento inexplicado de jogadores, há a presença cativa de certos atletas que não se explicam dentro de campo pelo Vasco, em especial, Alex Teixeira e Souza.
Outros casos, como o do meia Lukas Zuccarello estar constantemente fora das relações, mesmo tendo ostentado até titularidade em jogos relevantes do ano, como um dos clássicos diante do Flamengo nas semifinais do Carioca, alimenta essa narrativa.
No fim, nunca vai haver técnico unânime, mas certos erros se fazem tão latentes que tornam-se alheios à arbitragem do debate e tornam-se fatos num resumo do trabalho de um profissional.
Relação instável com a torcida
Perto do fim, mas não menos relevante, há a relação instável do clube e de certos profissionais dele com a torcida.
A começar pelo próprio Fábio Carille, que não há muito esteve em entrevista coletiva cobrando determinados comportamentos de torcedor.
Seja favorável ou não a esse comportamento, há de se concordar que cobrar qualquer coisa da torcida do Vasco, que sofre há mais de 10 anos com times não competitivos e inúmeros vexames, é, no mínimo, de gerar questionamento.

Outro personagem notável nesse âmbito de ser alvo de ondas de ódio da torcida, seja por comportamentos seus ou desempenhos esportivos, é o zagueiro João Victor.
Ele, que para sempre — ou até quando a memória da torcida permitir — será lembrado pela sua taxa de transferência na vinda do Benfica por R$32 milhões, é cobrado por desempenhar de forma impecável.
Natural, afinal, em montante pago para vir ao Vasco, só perde para o Edmundo, vindo da Fiorentina, da Itália, em 1997. A etiqueta é pesada.
Não só por não ter correspondido, contando com falhas cruciais diante do Santos, do Melgar, do Corinthians e do Ceará — sendo contra o Corinthians uma atuação até com gol contra — mas pelas suas falas recentes, ele se indispôs com a torcida.
Outro que esteve recentemente na mira é o goleiro Léo Jardim, que assim como João, se indispôs por falas recentes. Ambos falaram sobre, assim como Carille, o relacionamento com a torcida.
No fim, há razão em ambos os lados. Como difundido anteriormente no texto, cobrar qualquer coisa da torcida do Vasco é, no mínimo, questionável.
Morosidade no processo de revenda da SAF
De longe, a problemática em atividade mais pertinente do clube. A relevância para ela é enorme e não é possível traduzir de forma completa o quão determinante isso é para o futuro da instituição.
O sentimento de medo é totalmente coerente com relação ao que aconteceu nesses últimos três anos de Vasco. Uma venda irresponsável feita em 2022 para a 777 Partners é um fantasma recente que ainda assombra a totalidade dos vascaínos.

Com diversos interesses na compra da SAF reportados, há a expectativa pela definição do futuro da institução. Contando com Pedrinho na presidência do clube, espera-se que hajam critérios coerentes da parte do ídolo cruzmaltino pela definição desse destino.
Reforma de São Januário
Não menos relevante, mas em último nessa "lista", fica a reforma do estádio que completa 98 anos de existência nesse dia 21 de abril de 2025. A casa do Vasco e da história do futebol carioca e a luta pela inclusão social, São Januário tem reforma prevista.
A demora pelo início das obras preocupa. A previsão inicial era de que estas tivessem início ao começo de 2025. Por conta de atrasos burocráticos, a reforma foi prorrogada e agora a nova expectativa é do início dela em 2026.

A pressão por essa reforma é real, mas anda lado a lado com a insegurança de saber onde o Vasco mandará as suas partidas até o fim dela, previsto para 2027, ano do centenário do estádio.
Ambos os assuntos geram preocupação no torcedor e minam a tranquilidade, especialmente por significar, simbolicamente, o fim do "velho" São Januário. Junto a ele, o fim, simbólico, de um local com tantas memórias para tantas pessoas.
No fim. o objetivo desse texto é lembrar que, mesmo com um empate sofrido contra o grande rival, as coisas não ficam boas de repente.
A realidade é dura, bate na porta e é importante manter-se preso a ela. Sem isso, seremos facilmente manipulados e deixaremos de cobrar o que é pertinente.
O Vasco está muito longe de onde deveria estar. Tem muito chão a percorrer. Cobrar é essencial. Cabe lembrar que cobrar não anda lado a lado de hostilizar, xingar e tumultuar.